Até hoje eu não tenho uma explicação para o que aconteceu. Eu
sinto um frio na coluna só de lembrar daquele dia.
Era as férias escolares de julho e a minha família resolveu ir viajar para o
interior do estado, então o meu pai alugou uma chacarazinha em uma cidade (eu
não tenho idéia do nome da cidade, já não lembro mais) no interior que ficava a
mais de 4 horas de viajem de carro, que um amigo dele tinha indicado.
Quando chegamos lá tiramos as nossas coisas do carro e fomos dar uma olhada pela
casa. Arrumamos as nossas coisas na casa e fomos descansar, já que tínhamos
chegado tarde. Nós íamos ficar uma semana lá.
No dia seguinte fomos visitar a cidade, e depois de um dia fazendo turismo,
voltamos cansados para casa. E assim foi o primeiro dia. o segundo ficamos na
chácara mesmo e o terceiro também. Nada de anormal tinha acontecido até agora.
Mas tudo mudou no quarto dia.
O dia amanheceu nublado e sem vento nenhum. Nos dias anteriores não tinha feito
frio, mas nesse dia estava bastante frio. O dia estava estranho, eu não sei
explicar bem o que tinha e estranho, só que tinha alguma coisa que não parecia
certa. O dia foi avançando e uma sensação estranha foi tomando conta de mim. Eu
comecei a ficar inquieto dentro da casa.
Nós almoçamos e depois do almoço, quando estávamos na sala (o meu pai e a minha
mãe conversando e eu e os meus irmão jogando vídeo game) foi que tudo começou.
Um vento forte começou a bater lá fora, e pouco depois a luz acabou. Então o
vento começou a ficar cada vez mais forte. As árvores lá fora balançavam muito,
pareciam que iam ser arrancadas do chão. Então começamos a ouvir gritos. A minha
irmã olhou assustada par ao meu pai, mas ele falou para ela se acalmar, que era
só o vento. Só que não parecia ser "só o vento". O som daquele grito começou a
vir de todos os lados de fora da casa, não só de onde o vento vinha. Logo não
parecia ser só um grito, parecia que tinha mais de uma pessoa gritando e
gemendo, como se tivesse agonizando. Aquilo começou a assustar muito a gente. Um
pouco depois as janelas da casa toda começaram a chacoalhar, como se tivesse
alguém batendo nelas, mas não tinha ninguém lá fora! Os gritos aumentaram e a
minha irmã começou a chorar. O meu pai já estava convencido que aquilo não era
só o vento. Ele falou para todo mundo ir para o banheiro e nós nos trancamos lá
dentro. Ainda assim podíamos ouvir os gritos e gemidos, vindo de todos os lados
de fora da casa. Então ouvimos uma janela quebrar. Eu não sei por quanto tempo
ficamos lá dentro, mas sei que foi mais de uma hora.
Até que aquela ventania toda se acalmou e foi embora, e os gritos junto com ela.
Ainda ficamos mais uns dez minutos dentro do banheiro, e então o meu pai
resolveu ir ver se estava tudo bem para a gente sair do banheiro. Ele saiu e
depois de uns cinco minutos ele voltou falando que estava tudo bem agora. Ele
puxou a minha mãe para um canto para conversar com ela e falou bem baixinho
(para não assustar a gente), mas eu consegui ouvir o que ele falou. Ele falou
que quando saiu do banheiro foi ver se as portas estavam fechadas, e estavam as
três portas trancadas, inclusive com as trancas que só abrem por dentro, e que
todas as janelas estavam fechadas, menos uma, a da sala onde a gente estava, que
estava quebrada, só que os estilhaços do vidro estavam do lado de fora, como se
a janela tivesse quebrado de dentro para fora! A minha irmã não parava de
chorar, ela estava muito assustada, e eu também, para falar a verdade. Eu nunca
tinha visto algo como aquilo acontecer na minha vida inteira.
A minha mãe falou que era melhor a gente ir embora de lá, mas o dia ainda estava
nublado, acinzentado e estava com uma cara que ia cair um temporal (o que de
fato aconteceu durante a noite), e o meu pai falou que era perigoso pegar a
estrada daquele jeito, que era melhor a gente esperar para ir no dia seguinte. A
minha mãe concordou e nós passamos a noite lá. A gente ainda estava sem energia
e acabamos dormindo todos juntos no mesmo quarto. Eu não sei se os outros
conseguiram dormir, mas eu não fechei o olho a noite inteira. Cada barulho lá
fora me assustava. E eu não tenho certeza, mas eu acho que cheguei a ouvir uns
gritos bem ao longe. Não sei se podia ser só alguém gritando ou se era o que
tinha vindo "visitar" a gente naquela tarde, eu não queria descobrir.
Na manhã seguinte nem tomamos o café da manhã, simplesmente arrumamos as nossas
coisas e fomos embora.
Até hoje eu não sei o que aconteceu naquele dia, e nem tenho nenhuma explicação
lógica para o que podia ser aquilo. Só agradeço ao meu pai por ir embora no dia
seguinte, mas se dependesse de mim eu teria ido no mesmo dia.
Cláudio - São Paulo - S.P.